Não é apenas a questão da política externa que está francamente subvalorizada na actual campanha eleitoral. Tudo o que é incómodo é varrido para debaixo do tapete. Com dificuldade se fala da questão da justiça. Outro elefante dentro da sala que se procura esconder debaixo do tapete é o ambiente e as questões climáticas. Um artigo de Guilherme Serôdio, no Público, torna clara a dimensão do problema ambiental e como a única solução efectiva é muito difícil, ou mesmo impossível, de ser tomada. Essa solução é o decrescimento económico. Ó que significa, na realidade, decrescimento económico? Significa empobrecer, significa que todos temos de consumir menos, muito menos. Não se trata apenas, por exemplo, de passar de automóveis movidos a derivados do petróleo para automóveis movidos a electricidade. Trata-se de reduzir, talvez drasticamente, o número de automóveis em circulação. Uso aqui o exemplo do automóvel pois é aquele que mais fere as pessoas. Não ter automóvel é sentido como um ataque ao estatuto social, à liberdade e, em última análise à identidade pessoal. Não é por acaso que, para além de considerações piedosas, a questão ambiental (isto é, da sobrevivência da humanidade na Terra) é um não assunto eleitoral. Ninguém ganha votos prometendo o decrescimento económico, prometendo um país em que todos seremos mais pobres, até porque em lado nenhum isso está a acontecer. A ideia que tomou conta da espécie humana é que ela tem um direito divino a consumir cada vez mais, tem direito a empanzinar-se de bens e se a coisa correr mal, como está já a correr, tem o direito de cair no abismo, regurgitando tudo o os deuses que a movem lhe deram direito a consumir.
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