A vexata quaestio da formação do próximo governo na região autónoma dos Açores tem sido usada como arma de arremesso contra os socialistas, como se a formação do governo fosse da responsabilidade de quem perdeu as eleições e, não tendo qualquer possibilidade de governar, teria uma espécie de obrigação moral de suportar um governo do outro bloco político. Dois artigos do Público, um de ontem e outro de hoje, chamam a atenção para duas vertentes do problema que estão a ser manifestamente ocultadas. Pacheco Pereira sublinha que esta campanha do comentariado nacional para exigir um compromisso do PS açoriano com o governo de Bolieiro deveria ser correspondida por uma campanha idêntica, desse mesmo comentariado, exigindo que Bolieiro mostrasse interesse em negociar com o PS um apoio da sua solução governativa. Coisa que nunca fez. Pacheco Pereira mostra como os dois lados são tratados de modo diferentes pelo comentariado nacional, o que enviesa a percepção das pessoas.
No artigo de hoje, Ana Sá Lopes sublinha um outro aspecto importante do problema. Qualquer apoio que os partidos do centro dêem um ao outro, na busca de uma solução governativa, é um caminho aberto para o Chega emergir como a grande oposição ao sistema. Seri um passo, acrescento, para a destruição da natureza liberal da nossa democracia. Soluções de bloco central, atractivas para pessoas bem intencionadas, mas ingénuas politicamente, são, na verdade, um perigo, pois fomentam o crescimento dos extremos. Na actual circunstância internacional e nacional, seria o crescimento da extrema-direita. Noutros tempos, seria o da extrema-esquerda. Tanto o centro-direita como o centro-esquerda, para governarem, terão de encontrar na sua área os apoio necessários e, caso seja necessário, domarem os dragões que nela existem. Foi isso que António Costa fez e não se saiu mal. O problema dele foi quando deixou ter dragões para domar.
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