A degradação do ambiente político, que resulta numa intensa polarização política, com uma paulatina transformação dos adversários em inimigos, tem, nos debates entre candidatos destas eleições, um novo e preocupante sinal. Esse sinal é a extrema futebolização da política. Tal como no futebol, também estes debates têm tido, depois de ocorridos, painéis de comentadores que fazem leituras dos debates (e avaliam desempenhos, como há muito se avalia no futebol), tentando impor aos espectadores uma leitura, a sua, do ocorrido, tal como acontece no futebol. Mais, tal como no futebol se fazem antevisões dos jogos, também agora se fazem antevisões dos debates.
Este modelo rentável para as televisões, pois alimenta paixões e estas geram audiências, degrada a vida pública e socava a democracia enquanto debate racional sobre o bem comum. Mesmo que os comentadores das televisões não sejam adeptos da degradação democrática e activistas pró-populismo, o modelo de negócio televisivo que explora a política como se fosse futebol é uma forma de propaganda sistemática de atitudes que acabam por conduzir à adesão a visões populistas da política, à degradação democrática e à transformação de adversários políticos, racionalmente, embora de modo plural, orientados para o bem comum, em inimigos políticos que devem ser suprimidos. Não é um acaso que o chefe do partido populista, o que mais progride nas intenções de voto, era um comentador de futebol.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.