sexta-feira, 25 de outubro de 2019

O problema da falta de acordos à esquerda

Há uma coisa que António Costa e o PS talvez não tenham percebido. O problema de não haver acordos à esquerda não é tanto daquilo que se vai passar no parlamento. O problema é que vai ter além de toda a direita em permanente guerrilha contra o governo, agora com um Rui Rio em força no parlamento, também os eleitores de esquerda, cerca de 18%, se se incluir o Livre. Isso não fará cair o governo, mas pode ser que o vá cozinhando em lume brando. Por exemplo, a arrogância habitual do PS não vai encontrar agora quem a desculpe e olhe para o lado, como aconteceu no governo anterior. À direita e à esquerda cairão sobre ela. Uma coisa é o número de deputados e outra a voz da rua. Esta não demite governos, mas desgasta-os, até que os eleitores lhes fogem.

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Fim da Geringonça

António Costa e o PS tinham, quando fizeram um conjunto de reuniões com a esquerda e o PAN, a intenção de continuar a experiência da anterior legislatura? Não, não tinham qualquer intenção. As reuniões foram apenas uma encenação, à qual a rejeição de acordo escrito pelo PCP ajudou, para tentar mostrar ao eleitorado que AC e o PS não são pobres e mal agradecidos. Por que se comportam assim? Porque têm uma maioria absoluta sem a terem. Que hipótese têm o BE e o PCP de votar ao lado da direita uma moção de censura ou a rejeição de um orçamento sem que isso lhes leve parte do eleitorado? Tendencialmente, nenhuma. Na anterior legislatura, o PS e AC precisavam dos votos do BE e do PCP. Nesta, apenas precisam do medo.

domingo, 6 de outubro de 2019

Assunção Cristas

A saída - inevitável - de Assunção Cristas do CDS não me parece que enriqueça a política. Quando ela chegou a liderança, pensei que poderia fazer um percurso interessante, porque acho que ela tem talento político. Enganei-me. Ela cometeu erros (não apenas nas europeias, mas também na acrimónia com A. Costa), não soube, como há pouco sublinhou José Miguel Júdice, criar uma distinção com o PSD, mas julgo que o problema principal não é ela, é o próprio CDS, a imagem que fabricou, os estratos sociais que apresenta como base orgânica. Esses estratos são pouco relevantes socialmente (em número de votos, entenda-se) e os resultados de hoje espelham isso. Tenho dúvidas que o CDS sobreviva caso cheguem ao parlamento a Iniciativa Liberal e o Chega. Veremos.

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Freitas do Amaral

Com a morte de Freitas do Amaral desaparece o último dos quatro grandes protagonistas partidários do pós-25 de Abril. Freitas do Amaral teve um papel muito importante na consolidação da democracia em Portugal. Na direcção do CDS, enquadrou no novo regime, juntamente com um conjunto notável de correligionários, a parte mais conservadora da população portuguesa. Para a democracia, o papel de Freitas do Amaral foi mais decisivo enquanto esteve no centro-direita do que, depois, quando se aproximou do centro-esquerda. Aproximação legítima, mas já num tempo em que o regime estava consolidado.