domingo, 24 de novembro de 2019

Novo episódio da novela Joacine

Em roda livre. Rui Tavares não percebeu quem era Joacine Katar-Moreira, ou não percebeu que ela tinha mais energia sozinha que o resto do Livre em conjunto. Joacine, porém, não está a perceber outra coisa. Olhando para onde obteve os votos, muitas vezes em zonas de classes médias e médias altas, esses votos de intelectuais de esquerda vão desaparecer a grande a velocidade, mas como se dizia por aqui enquanto o pau vai e vem folgam as costas. Há que desfrutar o momento. Rui Tavares está a receber em decuplicado o que fez com o BE. Uma comédia de enganos de um partido que nasceu de um projecto individual e que está a morrer às mãos de outro projecto individual.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Joacine-Katar Moreira e o Livre

Desde que as intervenções de Joacine Katar-Moreira indiciaram a sua efectiva linha política que achei estranha a posição de Rui Tavares. Pareceu-me sempre moderado, racional e cordato. A moral desta história é que Rui Tavares não tem grande vocação para a política. É um bom académico (hoje distinguido pela Academia Portuguesa de História), faz bem opinião, mas claramente não é um homem político. O facto de não ter sido cabeça de lista do Livre por Lisboa parece ser um argumento de peso. O programa de Katar-Moreira pode não ser o do Livre, mas é o dela e ela foi eleita, o lugar pertence-lhe. Mais, ela parece saber muito bem o que quer e aquilo que dá mostras de querer talvez tenha pouco a ver com a visão do mundo de Rui Tavares.

domingo, 10 de novembro de 2019

Eleições em Espanha e sistemas eleitorais

A composição do parlamento espanhol saído das eleições de hoje é uma óptima ilustração para aulas de Ciência Política. Um dos problemas de um sistema eleitoral proporcional é o da dificuldade que pode haver para formar governo. Portugal não tem sido atingido por isso. A Espanha também não tinha até há pouco. Nenhum sistema eleitoral é perfeito. Mesmo um sistema eleitoral maioritário (eleição uninominal a uma volta) como o inglês que parece assegurar governos sólidos não consegue resolver o problema do Brexit. Voltando a Espanha, é imaginável que comecem a existir pressões para substituir o sistema plurinominal proporcional (idêntico, de alguma forma, ao português) por um outro que assegure a governabilidade. Com a subida do Vox e a situação actual, a democracia espanhola está a passar um mau bocado.

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Uma regra sem sentido

Todos sabemos que as regras são para cumprir. Também sabemos que há regras estúpidas que devem ser abolidas, ainda por cima quando já houve para elas excepção. Não consigo entender o que vai na cabeça do PS, BE, PCP e PEV para bloquear a possibilidade dos novos partidos com apenas um deputado (Chega, IL e Livre) poderem participar no debate quinzenal com o primeiro-ministro. A posição é má por dois motivos. É intrinsecamente má porque a representação dos portugueses é mais importante do que um regimento burocrático da Assembleia. É instrumentalmente má porque faz destes partidos vítimas, ainda por cima vítimas de um regimento que já abriu excepções. Uma democracia representativa serve também para que as ideias de que não gostamos tenham voz, desde que os eleitores lhe tenham dado legitimidade. Esperemos que um novo regimento resolva este assunto.

domingo, 3 de novembro de 2019

Joacine Katar-Moreira e a incorrecção política

Joacine Katar-Moreira, que eu não fazia a mínima ideia quem era, e o seu assessor, de quem também nunca tinha ouvido falar, têm pelo menos um mérito. Transformaram muitos dos zelosos militantes do grande exército de combatentes ao politicamente correcto em defensores da mais rígida correcção política. Quando a incorrecção política vem de um certo lado, essa gente baba-se com as tartufices dos politicamente incorrectos. Quando a incorrecção política - isto é, a patetice ou tartufice - vem do outro lado, os incorrectos passam a correctos, vão para as ruas rasgar as vestes, arrepanhar os cabelos e clamar que a pátria e a civilização estão em perigo. Seja como for, e apesar de me divertir a conversão de politicamente incorrectos à correcção, julgo que o Livre já perdeu a oportunidade que os eleitores lhe deram. Talvez em Lisboa haja eleitorado para o discurso de Joacine Katar-Moreira, mas não haverá para eleger mais do que um deputado. Fora de Lisboa, nem pensar.