sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Uma paixão esquecida

Depois do elogio feito pelo Finantial Times à política de António Costa e à solução governativa encontrada, começou a correr, num mesmo post, o elogio a Costa mas também um outro, feito em 2007, a Sócrates. A comparação vem de gente ligada à direita e faz parte da campanha contra o actual primeiro-ministro. Só quero recordar uma coisa. Em 2007, perante o naufrágio da direita parlamentar que então se vivia, a direita social andava embevecidíssima com Sócrates. Delirava com os cortes que ele fazia nos serviços sociais, com o ataque impiedoso aos professores e outras malfeitorias que ele distribuía pelas gentes em maiores dificuldades. Exultava com a voz grossa e a mão dura do então primeiro-ministro. Como a memória é selectiva, convém recordar essa paixão entre a direita social e o Sócrates dos primeiros tempos.

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

O BE como força da estabilidade

Catarina Martins tem uma visão hiperbólica do papel do BE (ver aqui). Não que o BE tenha sido irrelevante na vida política dos últimos 4 anos. Não foi, mas também não foi a (sic) força da estabilidade. Foi uma das forças da estabilidade, juntamente com o PS e o PCP. No entanto, esta constatação não é o mais relevante. O mais relevante é que o próprio BE, ao usar a ideia de ser força da estabilidade, adoptou a linguagem dos partidos conservadores e reformistas. Que o BE e o PCP são, hoje em dia, forças da social-democracia, qualquer pessoa atenta e descomprometida com a guerrilha interpartidária já tinha compreendido. No entanto, tudo fica mais claro quando é confirmado pela linguagem dos dirigentes desses partidos.

domingo, 25 de agosto de 2019

O sagaz Costa

Se queremos que o sagaz Costa, como o denomina o Financial Times (ver aqui), no editorial de hoje, continue o caminho de "prudência orçamental" mas sem uma "austeridade punitiva", como a mesma fonte refere, o melhor é mesmo evitar dar a António Costa aquilo que ele tanto deseja, a maioria absoluta. Parece que as pessoas em situações confortáveis perdem a sagacidade, o que lhes pode abrir a veia punitiva.

sábado, 24 de agosto de 2019

António Costa e o Bloco de Esquerda

António Costa está a fazer ao Bloco de Esquerda (ver aqui) aquilo que fez a António José Seguro, ou que, anos antes, Paulo Portas tinha feito a Manuel Monteiro. Se quisermos interpretar a questão do ponto de vista moral, erramos o alvo. Quem quiser alcançar a glória dos altares, não vai para a política. O que está em jogo na política não é a fidelidade aos amigos mas o poder. Maquiavel explicou-o no início do século XVI. A bondade do ataque de AC ao Bloco de Esquerda só pode ser avaliado pela sua eficácia. Se conseguir limitar a influência do BE e alcançar uma maioria absoluta ou uma maioria relativa que dispense o BE, então AC fez o que devia. Se, contados os votos, o PS precisar do BE para sustentar um governo, cometeu um erro (embora não irreparável). O comportamento do actual primeiro-ministro é igual ao de qualquer outro político em luta pelo poder, seja em democracia ou em ditadura, seja de esquerda, centro ou direita. Faz e desfaz alianças conforme a necessidade e as conveniências. Em política, todos os amigos são de ocasião e qualquer companheiro não passa de um compagnon de route que se tentará alijar na primeira estação de serviço.