Não se discute aqui a bondade ou maldade moral das touradas, mas o exercício de mau gosto e a péssima literatura. Na sua cruzada contra as touradas, o PAN decidiu converter-se ao engraçadismo, influenciado pelo êxito que a extrema-direita tem tido com essa triste moda. Colocou no Campo Pequeno um outdoor com os seguintes dizeres: Touradas só na cama / E com consentimento. Isto no lado esquerdo. No lado direito há uma cama de casal meio desfeita e, no canto superior direito, o símbolo do partido. Deixemos, contudo, o mau gosto do recurso a uma sugestão da sexualidade, eventualmente exuberante. Demoremo-nos na metáfora. Os parceiros sexuais devem consentir em que tipo de tourada? À portuguesa ou à espanhola? Se for à espanhola, o que fizer de toureiro terá o direito de matar o que faz de touro, por certo. Mas se a inclinação literária do PAN for nacionalista, será antes uma tourada à portuguesa. Na cama, o toureiro, apeado ou a cavalo, poderá espetar no que fizer de touro as bandarilhas, mas este só morre nos curros. Parece que para o PAN o problema das touradas reside no sofrimento animal, mas esse sofrimento não será problemático numa cama com seres humanos, desde que consentido, talvez uma antecipação da eutanásia livre. Uma coisa é certa, no PAN não abunda talento literário nem boas relações com a tropologia.
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