Tornou-se um topos da análise política feita na comunicação social o recurso à confrontação entre o que dizem os actores políticos e a realidade, numa espécie de recurso a detectores de mentiras. Este exercício poligráfico é interessante, mas é duvidoso que tenha algum efeito na consciência dos cidadãos. Ninguém muda de intenção de voto porque os políticos do seu lado dizem mentiras. Os outros também dizem, pensará. E mentiras por mentiras, prefiro as do meu lado. Há casos mesmo que, como acontece nos movimentos populistas e de extrema-direita, mentir é uma condição pelo menos necessária para ser apreciado como líder. A questão não está no facto de termos entrado na era da pós-verdade, mas antes no caso do que está em jogo na política não é a verdade, mas o poder, que os meus cheguem ao poder. A verdade é meramente instrumental na política de hoje, como sempre o foi. Quando se acusa o adversário de mentir não é por amor à verdade, mas para tentar, talvez em vão, obter uma vantagem política. Por isso, as campanhas contra a desinformação têm tão poucos resultados, como o têm os múltiplos polígrafos que por aí existem.
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