Segundo os portugueses, entre 60% e 70% daqueles que se dedicam à política - isto é, à causa pública - são corruptos (ver aqui). Este número fantasioso revela diversas coisas. Por um lado, a existência de uma contínua injecção na opinião pública dessa crença. Certos órgãos de comunicação social vivem da propalação de uma imagem generalizada dos políticos como seres corruptos, transformando os casos reais que surgem numa espécie de prática sistemática. Por outro, com a transição à democracia em 1974, os inimigos desta lançam continuamente essa imagem. Por fim, a cultura da inveja entre um povo relativamente pobre - se visto pelos padrões dos mais ricos - gera um ressentimento em relação aos que ocupam lugares de poder, como se estes fossem altamente compensatórios.
Mais do que a corrupção real, que existe, é a percepção da corrupção, pela sua natureza hiperbólica, que é uma ameaça para o regime democrático, pois, como muito bem sabia Salazar, em política, aquilo que parece real é real, mesmo que seja falso. O que impressiona, contudo, é a incapacidade dos grandes partidos em lidarem com o assunto e tomarem medidas efectivas que tornem transparentes todos os actos da governação, seja em que nível do Estado for. A transparência seria um passo decisivo para o combate às falsas percepções da realidade. Depois, a própria conduta dos eleitos deve pautar-se pela contenção e frugalidade, ser muito cuidadosa na gestão dos bens públicos e nas regras da imparcialidade nos negócios públicos. Não levar isto a sério é continuar a alimentar percepções erradas que degradam as instituições.
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