Depois da trágica saga dos fogos, parece que ainda não se
percebeu nada, rigorosamente nada. Nem à esquerda, nem à direita, nem nos
independentes, nem nos apolíticos. O problema não é da prevenção, nem do
combate, nem da floresta, nem da ordenação do território, nem da
desertificação. Tudo isso é problemático, muito problemático, mas o principal
problema não está aí. Está na leviandade que tomou conta de tudo, de todas as
instituições. Raramente se leva alguma coisa a sério. Raramente há
autoridade política. Raramente há pensamento sério. Tudo é, neste país,
circunstancial. Tudo é uma encenação medíocre para que os medíocres,
independentemente da cor do governo, governem. As instituições promovem
medíocres. E, como se sabe, a má moeda expulsa a boa. Os medíocres conspiram,
protegem-se, tornam a vida insuportável aos que tentam pôr um pouco de ordem e
de sensatez nas instituições. Os medíocres apropriaram-se dos partidos e
constituem agora uma verdadeira coligação que governa Portugal. Esta coligação
não é de esquerda, nem de direita. Ela é de todas as cores. Os governos caem,
mas a coligação mantém-se e governa o país. É inexorável. Liquida quem mostre o
mais leve resquício de talento. Quando se fala em meritocracia em Portugal
dá-me vontade de rir. Um país entregue à estupidez manhosa, à impreparação, ao
compadrio dos medíocres. Um país onde se cultiva estultícia para se colher
desgraça. Esse é o grande problema. Tudo isto é muito, muito cansativo.
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