sábado, 4 de novembro de 2017

Ferramentas

O processo de dessacralização das sociedades ocidentais foi acompanhado por um processo de sacralização das ideologias políticas. Esquerda e Direita são vistas, pelos respectivos adeptos, como espaços sagrados, nos quais cabem, por certo, diversos credos e diferentes liturgias. Uma leitura racional da dicotomia política mostra-nos, porém, que Direita e Esquerda são meras ferramentas que certas sociedades, como um todo, usam com a finalidade da autopreservação e da persistência no tempo.

O carácter sacral desses espaços devia chamar a atenção, de quem olha racionalmente a questão política, para o investimento que a espécie faz, em certo tipo de sociedades, nessa organização dicotómica. A sua sacralização não é outra coisa senão a criação de uma ilusão que visa preservar essas ferramentas. No entanto, essa ilusão revela uma outra coisa.

Direita e Esquerda não têm, por si mesmas, qualquer valor intrínseco. O seu valor é meramente instrumental. São ferramentas que os cidadãos, enquanto comunidade, usam para regular a sua vida comum. Talvez a maior parte dos cidadãos necessite da ilusão, necessite de perceber na Direita ou na Esquerda um valor sagrado. Se queremos, porém, pensar o fenómeno político, devemos deixar de lado a ilusão e olhar Esquerda e Direita como o esquadro ou o formão dos carpinteiros. Meras ferramentas a usar. 

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