O processo de dessacralização das sociedades ocidentais foi
acompanhado por um processo de sacralização das ideologias políticas. Esquerda
e Direita são vistas, pelos respectivos adeptos, como espaços sagrados, nos
quais cabem, por certo, diversos credos e diferentes liturgias. Uma leitura
racional da dicotomia política mostra-nos, porém, que Direita e Esquerda são
meras ferramentas que certas sociedades, como um todo, usam com a finalidade da
autopreservação e da persistência no tempo.
O carácter sacral desses espaços devia chamar a atenção, de quem olha
racionalmente a questão política, para o investimento que a espécie faz, em
certo tipo de sociedades, nessa organização dicotómica. A sua sacralização não
é outra coisa senão a criação de uma ilusão que visa preservar essas
ferramentas. No entanto, essa ilusão revela uma outra coisa.
Direita e Esquerda não têm, por si mesmas, qualquer valor intrínseco. O seu
valor é meramente instrumental. São ferramentas que os cidadãos, enquanto comunidade,
usam para regular a sua vida comum. Talvez a maior parte dos cidadãos necessite
da ilusão, necessite de perceber na Direita ou na Esquerda um valor sagrado. Se
queremos, porém, pensar o fenómeno político, devemos deixar de lado a ilusão e
olhar Esquerda e Direita como o esquadro ou o formão dos carpinteiros. Meras
ferramentas a usar.
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