A vexata quaestio da descida do IRS tem pelo menos o mérito de nos dar uma imagem daquilo que os políticos pensam dos eleitores. Os votantes portugueses não escolhem projectos para o país, mas deixam-se comprar por uns euros a menos nos impostos. Esta triste realidade diz alguma coisa dos portugueses, por certo, mas também diz muito da qualidade das nossas elites políticas, da inconsistência da sua visão do mundo, da comunidade e da própria prática política. Não se trata de uma virtualidade do regime democrático, pois este também tem produzido lideranças consistentes, mas do paulatino abandono da política por quem poderia ter uma abordagem diferente e consistente do país. E aqui os portugueses têm responsabilidades. Por um ódio contumaz aos políticos, um ódio gerado no autoritarismo do Estado Novo, foram fechando portas e janelas por onde pessoas mais qualificadas e capazes poderiam entrar. O populismo cheganista não caiu dos céus, ele veio da terra e é a expressão da mediocridade que a cultura política de parte dos portugueses gerou ao longo de décadas.
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