O texto de Maria Durães, no Público (aqui) sobre os incels, isto é, homens involuntariamente celibatários é interessante a vários títulos. A cultura misógina partilhada e o despeito pela conquista da igualdade está a tomar uma dimensão política, com os indivíduos e grupos mais ou menos informais aproximando-se da extrema-direita. A questão feminina tem sido vista, no mundo ocidental, a partir de uma perspectiva ancorada nos ideais da liberdade e da igualdade provenientes da Revolução Francesa. Contudo, em outros universos civilizacionais a questão é ainda a do direito do homem exercer dominação - inclusive, pela violência - sobre as mulheres. Também no Ocidente, parte - e não pouco significativa - do poder de atracção da extrema-direita está na questão feminina. Não no sentido da emancipação plena da mulher, mas do retorno de estruturas de dominação, as quais permitiriam que os homens pudessem pôr fim ao processo de libertação das mulheres e voltassem a impor-lhe a sua vontade. A questão feminina, no pior dos sentidos da palavra, vai ser cada vez mais um tema na agenda dos radicais e extremistas de direita, em concomitância com o crescimento do sentimento de impotência dos homens perante os seus fracassos - onde se incluem os libidinais - e os êxitos das mulheres.
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