A polémica gerada pela a apresentação, por Passos Coelho, do livro Identidade e Família, uma obra colectiva gerada no seio da direita conservadora é um sintoma do ambiente em que se vive. A obra podia ser apenas a expressão de um ponto de vista sobre a sociedade. Ela é mais do que isso. É um contributo para um ambiente de tensão e que visa desgastar os valores liberais. Não ao nível económico, pois aí essa direita é completamente liberal, mas ao nível dos costumes. Nada disto seria problemático, caso se inserisse apenas num debate normal de ideias. Contudo, este movimento de guerra cultural visa restabelecer uma situação em que as opções dos indivíduos deverão regular-se por aquelas que um grupo pretende impor. A questão da família tradicional é emblemática. Segundo os autores, a família tradicional está sob ataque. A verdade é que ninguém é impedido de formar uma família tradicional, de viver a vida no âmbito dessa família. O que irrita estas pessoas é que essa família não seja obrigatória, que as pessoas sejam livres para escolher o modo como orientam a sua existência. Se a família tradicional passa por uma crise, isso não se deve a que ela esteja a ser atacada por quem quer que seja, mas porque as opções livres do indivíduos podem gerar essa crise. E é este o inimigo dessa direita. Já não é o comunismo ou o socialismo que incomoda essas forças, a não ser na fogo-de-artifício retórico, mas as liberdades individuais, o facto de que cada um possa orientar a sua vida sem o recurso a um tutor da sua consciência.
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