Vi um excerto de uma entrevista a Miguel Caetano, um dos filhos de Marcello Caetano, o Presidente do Conselho deposto em 25 de Abril. Miguel Caetano diz claramente que o pai não era um democrata. A transição à democracia que poderia ter sido iniciada com a chamada Primavera marcelista não existiu não apenas por causa da guerra colonial, mas também porque a direita portuguesa, e Marcello Caetano era um símbolo dessa direita, não tinha propensão democrática. Não a incomodava as perseguições políticas, a existência de censura e de uma polícia política, a ausência de liberdades civis e políticas.
O 25 de Abril tornou possível a emergência de uma direita democrática, preocupada com as liberdades. Perturbante, porém, é o facto dessa direita, agora no governo, estar em refluxo e a velha direita autoritária ter encontrado um modo de expressão e de propaganda constante, com uma postura, porém, muito diferente da postura dos dois Presidentes do Conselho da ditadura, Salazar e Caetano. Nenhum deles era um populista. Pelo contrário, tinham a velha gravitas dos antigos homens de Estado, enquanto o actual condottiero dessa direita não democrática é o contrário de tudo isso, uma figura burlesca que parece representar não uma tragédia, mas uma farsa.
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