Voltemos ao 25 de Novembro. É muito curioso que em toda esta discussão estejam rasurados acontecimentos fundamentais. Fala-se muito do Verão Quente de 1975, da deriva iliberal e da força do esquerdismo militar, que são factuais. Contudo, parece que entre o dia 25 de Abril de 1974 e o dia 25 de Novembro de 1975 não se passou mais nada senão a deriva iliberal e a captura do país pelo esquerdismo revolucionário. Ora, esta rasura dos factos históricos é interessante porque apaga uma parte da realidade, parte traumática para os defensores do 25 de Novembro como feriado nacional. O que vai abrir as portas para o delírio revolucionário são dois acontecimentos gerados pela extrema-direita, o 28 de Setembro e o 11 de Março. São eles, com a sua radicalização extremista promovida por fiéis ao anterior regime ou pelo bonapartismo spinolista, que escancaram as portas à radicalização à esquerda. Sem o 28 de Setembro, mas, fundamentalmente, sem o 11 de Março, toda a deriva seguinte não teria tido portas abertas para se dar. Falar no PREC e no Verão Quente de 1975, sem ter em consideração o que as forças radicais mais à direita tentaram para evitar a consolidação de uma democracia liberal, é acreditar que as coisas se formam por geração espontânea.
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