terça-feira, 13 de agosto de 2024

Extrema-direita e corrupção moral

A direita, não poucas vezes, indigna-se perante aquilo que classifica de superioridade moral arvorada pela esquerda. O problema é que não hesita em dar argumentos a essa esquerda, também ela, não poucas vezes, imoral. Neste momento, a Suécia tem um governo de direita, uma coligação de três partidos de centro-direita, com o apoio parlamentar dos Democratas Suecos, um partido de extrema-direita. Devido ao acordo com a extrema-direita está em estudo uma lei que obriga os funcionários públicos (médicos, professores, funcionários de bibliotecas, etc., etc.) a denunciar imigrantes ilegais. Há uma enorme contestação das organizações desses sectores de servidores públicos da comunidade (aqui).

A lei, se vier a existir, é moralmente repugnante. Não apenas por atingir os mais fracos (os imigrantes ilegais), mas por transformar os servidores públicos em denunciantes, numa espécie de informadores de uma qualquer polícia de Estado de um regime autoritário ou totalitário. A influência da extrema-direita não tem apenas impacto político, um impacto que corrói as instituições democráticas e o Estado de direito. Essa influência corrói o carácter das pessoas, degrada-as moralmente, impõe-lhe deveres que qualquer pessoa moralmente sã terá vergonha de cumprir. Uma das vantagens que a democracia liberal tem, perante qualquer outro regime, é que não obriga as pessoas a actos heróicos e a correr riscos existenciais para poderem manter a dignidade moral. E será isso que a possível lei obrigará aos funcionários públicos, caso estes não queiram sentir-se com seres moralmente abjectos.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.