Num artigo do Público, considera-se que a melhor maneira de tomar uma decisão, relativamente ao voto nas próximas eleições, é ler os programas dos partidos. Em parte, isso pode ajudar a perceber aquilo que cada partido propõe. Contudo, esta visão é ingénua. O que está escrito é aquilo que uma parte do eleitorado aceitará. O mais importante, muitas vezes, é o que não está escrito, mas que se tenciona fazer após as urnas fecharem e os votos estarem contados, o que muitas vezes assustaria até os eleitores fiéis. Todos os programas eleitorais são uma estratégia de revelação e de ocultação. Estão comprometidos não com a verdade das intenções, mas com a capacidade de persuadir o eleitorado. O mais importante, do ponto de vista do cidadão, é o exercício de uma hermenêutica da suspeita. Porquê suspeitar? Porque os programas eleitorais são um género da literatura ideológica, a qual, de modo mais ou menos consciente, é uma forma de distorcer a compreensão dos cidadãos. Não de todos, pois há eleitores que percebem muito bem aquilo que está oculto num dado programa e quando aceitam um, aceitam o escrito, mas, fundamentalmente, o não escrito, pois é este que agrada ao seu desejo. É bom ler os programas dos partidos, mas o melhor seria ter a capacidade de ler o que se oculta, seja nas entrelinhas, seja na pura omissão.
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