A deslocação de deputados do PSD para o Chega é apenas um episódio de uma fuga de militantes dos partidos da direita democrática - PSD, IL e CDS - para a efervescência populista e demagógica liderada por André Ventura. Contudo, não são apenas militantes e quadros que se transferem. Também uma parte do eleitorado da direita se está a deslocar, a grande velocidade, para as hostes de Ventura. Este fenómeno, contudo, não é inédito. Trata-se de uma trumpização da direita portuguesa. Nos EUA, os dois grandes partidos são uma espécie de coligação com diversas tendências, por vezes, com mais diferenças do que pontos de convergência. O que aconteceu ao Partido Republicano foi uma de rendição do partido e do eleitorado aos sectores mais extremistas e populistas, sectores que se aproximam perigosamente de posições antidemocráticas. Antes de Trump, esses sectores abrigavam-se sob o chapéu do Tea Party. Depois, Trump deu voz a essas forças e foi conquistando o partido, liquidando o republicanismo conservador democrático e federou os militantes e o povo de direita numa frente que raia a intolerância e que ameaça as instituições democráticas. Esse fenómeno não se circunscreveu aos EUA. Estamos a assistir à sua reprodução em Portugal. Mais rapidamente do que se pensava, o Chega está a federar a direita e o povo de direita. Como não existe um grande e único partido da direita em Portugal, como acontece nos EUA com os republicanos, o Chega está a destruir o PSD e a IL, depois de ter liquidado o CDS, para preparar o confronto com a esquerda. Não se está a ver como é que a dupla Luís Montenegro e Nuno Melo, nesta reedição da AD, poderão obstar à trumpização da direita e do clima político em Portugal. O preço disto será idêntico ao que se observa nos EUA. A ideia de adversários políticos é substituída pela de inimigos políticos. A partir daí só se pode esperar o pior.
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