Vamos lá falar de coisas desagradáveis. Em política, não é o bem nem a verdade que estão em jogo. Moralidade e verdade, em política, são meramente instrumentais. Usam-se se der jeito. O que está em jogo é o poder. Muito civilizado é um país quando consegue que os ocupantes e os aspirantes ao poder tenham de fingir que são moralmente bons e que, por vezes, se comprometem com a verdade, e que, se por acaso, perdem, aceitam a derrota com um sorriso, mesmo que seja o mais cínico dos sorrisos. Quando o grau de civilidade - que inclui a consciência cívica dos indivíduos - é baixo, proliferam coisas como as que vimos nos EUA, com a invasão do Capitólio, o corolário de vários anos de desprezo pelas regras informais da democracia. Não é que não existam políticos que são intrinsecamente democratas, isso, todavia, não altera a natureza da política. Numa democracia, os políticos portam-se civilizadamente porque temem ser penalizados pelos cidadãos. Quando esse medo deixa de estar presente, aparecerá sempre alguém para suprimir esse estorvo que é o poder depender da vontade popular expressa em votos secretos numa urna fechada.
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