domingo, 28 de janeiro de 2024

Activismo e activistas

Um novo ataque contra uma obra de arte, no caso, mais uma vez, a Mona Lisa. O ataque foi feito em nome do direito a uma alimentação saudável e em solidariedade com os agricultores franceses, que protestam entre outras coisas contra o excesso de medidas de protecção ambiental a que estão sujeitos. É interessante olhar para aquilo a que se dá os nomes de activismo e de activistas. Eles pretendem recorrer a acções de radical contestação do status quo em que se vive. Estas acções têm alguma eficácia publicitária, mas parecem ter nula capacidade de modificar o estado de coisas. Qual a razão dessa ineficácia? Há uma razão de fundo. É que o activismo se inscreve na mesma lógica daquilo que pretende combater. O mundo moderno, aquele que começou por volta do século XVII e ainda, de alguma modo, é o nosso, funda-se todo ele na acção. A modernidade trouxe com ela uma hipervalorização do agir e desvalorizou de forma sistemática a dimensão contemplativa, que perdeu a capacidade de orientar as acções dos homens. É esta desvalorização do contemplativo na vida social, a sua completa invisibilidade, que conduziu aos dilemas sociais, económicos e políticos que enfrentamos. O activismo e os activistas não são adversários da lógica que pretendem confrontar, mas são uma sua emanação e, como tal, estão condenados a fortalecê-la, pensando agir contra ela. As suas acções apenas geram reacções, porventura, mais fortes e poderosas.

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