Quando vejo loas ao liberalismo, tenho sempre uma grande vontade de rir. Não pelo liberalismo em si, mas pelo seu casamento com os portugueses. Neste artigo, JPP torna patente a realidade portuguesa. Está a falar do actual regime? Sim e não. Sim, porque as coisas funcionam assim. Não, porque já antes funcionavam exactamente no mesmo modo. No Estado Novo, na primeira República, na Monarquia liberal e, por certo, na Monarquia absoluta. Aquilo que se vitupera nos políticos do regime é o mesmo que se faz na vida privada, onde se pratica sem qualquer problema de consciência a pequena e a grande cunha, o favorzinho, a mão que lava outra mão, o dar uma palavrinha, o vê lá se conheces alguém, o olha preciso de um emprego para a pequena, etc., etc. O problema de Portugal não é o da ideologia de quem está no governo, mas o nosso profundo amor à família e aos amigos. Estes são muito mais reais do que as regras e os princípios abstractos que nos deveriam, de forma neutra e universal, guiar. Entre as abstracções e os interesses concretos, a maior parte dos portugueses não hesita e vocifera não me venham com coisas abstractas. Se o princípio abstracto mostra alguma resistência, logo se encontra modo de o contornar. Achar que se vai mudar é de uma inocência que se compreende nos verdes anos, mas que não passa de uma ilusão. Antes das pessoas pertencerem a partidos políticos, elas são portuguesas, beberam a cultura nacional e estão intimamente conectadas ao tecido social português com as suas regras ocultas e as suas leis de facto (embora não de direito).
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