terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Marisa Matias e a social-democracia

Anda por aí um charivari porque Marisa Matias, candidata à Presidência da República, apoiado pelo BE, se disse social-democrata. Isto já tinha acontecido quando Catarina Martins tinha afirmado qualquer coisa semelhante. Então pessoas de direita acham que a senhora só pode ser uma embusteira. No entanto, apenas uma cultura política absolutamente anedótica pode achar que a social-democracia é de direita. Nunca o foi, desde a sua origem. Social-democrata era o partido a que pertenceu Karl Marx. Social-democrata era o partido a que pertenceu Lenine até à ruptura entre mencheviques e bolcheviques. Com o advento dos partidos comunistas e da III Internacional, os partidos operários dividiram-se em dois grupos. Os comunistas e os sociais-democratas. Estes dispensaram a revolução e, mais tarde a partir da célebre convenção de Bad Godesberg do SPD alemão, dispensaram o marxismo. No entanto, nunca a social-democracia deixou de ser de esquerda. Olhando para o BE, não parece haver qualquer razão para duvidar do que diz Marisa Matias, a não ser que se considere o PSD português um partido social-democrata, coisa que se deve a um equívoco e ao atraso com que Portugal chegou a um regime democrático. Com representação parlamentar em Portugal, não me parece existir um único partido de esquerda cuja praxis política seja outra coisa senão social-democrata. Isto é, defensora de reformas políticas visando uma certa, embora mitigada, igualdade e o Estado social. Há diferenças de intensidade e também no volume com que o discurso é debitado, mas nada disso altera a realidade política.

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